sábado, 29 de março de 2008

"Não é apenas como General que se conquista o mundo
subjugando-o, mas também como filósofo, penetrando nele
e como artista acolhendo-o em si e recriando-o" Cristian Hebbel

"Blowing in the wind"

Soprando no vento
Bob Dylan

Quantas estradas precisará um homem andar
Antes que possam chamá-lo de um homem?
Sim e quantos mares precisará uma
pomba branca sobrevoar
Antes que ela possa dormir na areia?
Sim e quantas vezes precisará
balas de canhão voar
Até serem para sempre abandonadas?
A resposta meu amigo está soprando no vento
A resposta está soprando no vento

Quantos anos pode existir uma montanha
Antes que ela seja lavada pelo mar?
Sim e quantos anos podem algumas pessoas existir
Até que sejam permitidas a serem livres?
Sim e quantas vezes pode um homem virar sua cabeça
E fingir que ele simplesmente não vê?
A resposta meu amigo está soprando no vento
A resposta está soprando no vento

Quantas vezes precisará um homem olhar para cima
Até poder ver o céu?
Sim e quantos ouvidos precisará um homem ter
Até que ele possa ouvir o povo chorar?
Sim e quantas mortes custará até que ele saiba
Que gente demais já morreu?
A resposta meu amigo está soprando no vento
A resposta está soprando no vento

Bob Dylan & Joan Baez "Blowing in the wind"

Estrada Perdida

Este é o som!!! Estrada Perdida - Rock
Salvador- Bahia-Brasil
Uma das melhores bandas de Rock do circuito soteropolitano!
Cebola realmente é um Show!!! Sucesso amigo!!!

sexta-feira, 28 de março de 2008

Me gustas cuando callas

Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran voladoy
parece que un beso te cerrara la boca.
Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.
Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
Déjame que me calle con el silencio tuyo.
Déjame que te hable también con tu silencio claro como una lámpara,
simple como un anillo.
Eres como la noche,callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.
Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.
Pablo Neruda

Desejo

Desejo a você...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel...
E muito carinho meu.
Carlos Drummond de Andrade

domingo, 23 de março de 2008

Aristóteles contemplando o busto de Omero- Rembrandt


Esta magnifica tela de Rembrandt, retrata o filósofo Aristóteles contemplando o busto de Omero, grande poeta da Grécia antiga que narrou as façanhas do Ulisses no retorno a sua cidade "Ítaca" e a famosa guerra de Tróia com a vitória do guerreiro Aquiles. A contemplação de um dos maiores filósofos a um dos grandes responsáveis pela origem da filosofia. Na tentativa de compreender o mundo, os poetas, com suas inspirações divinas, narravam através das Musas (palavras cantadas), filhas da deusa Mnemosyne (memória) as histórias dos deuses e dos homens através dos mitos.O uso de analogias para tentar explicar o inexplicável era uma característica essencial destes mitos!!! É essa a origem da filosofia tão cara à Aristóteles, pois foi através dela que este acabou por tornar-se imortal!!!
Maíra Motta 12/04/2007

Jean e Gabrielle - Renoir


Uma das mais belas e expressivas telas do Renoir! Não saberia dizer se digo isto pelo simples fato de ser mãe, e ter em mim um sentimento que só as mães são capazes de compartilhar, mas o fato é que este momento de comunhão entre Jean e Gabrielle tão perfeitamente expresso por este gênio é algo sublime, uma relação que muitos nem sequer compreendem ....imagine a sensibilidade para expressá-la assim tão bem a ponto de causar impacto e uma sensaçao de nostalgia em nós mães que hoje vemos nossos filhos crescidos! (não adultos mais também não tão crianças, rsrsrs)
É realmente um espetáculo para os nossos olhos!
Maíra Motta

O tribunal de inquisição. Franscisco de Goya y Lucientes, 1816. Academia Real de San Fernando, Madri.
Hoje é sexta-feira 13, a superstição está no ar....recordei-me de relatos do tempo de outrora...homens e mulheres que foram sacrificados sob a acusação de práticas heréticas, não é a toa que esta época é conhecida como a época das trevas....o poder de uma igreja contra toda a humanidade....não se podia falar de amor, astrologia, das plantas com seus poderes curativos , em dançar a luz da lua, nem sequer dizer nada que contestasse a doutrina imposta por esta instituição macabra. Livros foram censurados e queimados ( como a segunda poética de Aristóteles),homens e mulheres foram condenados, jogados à fogueira ou enforcados ( Giordano Bruno)...o retrato fiel da barbárie e da tirania religiosa.Recordo-me bem da obra O nome da rosa de Umberto Ecco, que soube retratar com fidelidade esta fase tenebrosa da era medieval, mostrando-nos como a Igreja Católica estava disposta a vigiar e manter sob seu domínio todo o universo do pensamento humano. Qualquer um que ousasse defender suas idéias científicas, religiosas, ou em qualquer área do saber, se estivesse em desacordo com a interpretação do Vaticano, era considerado um herético, e, por isso, por esse crime, eram julgados e condenados. Era quase impossível aos ditos hereges se livrarem da tortura e da fogueira. Segue-se um trecho do livro de Rubem Q. Cobra que nos relata a execução de Giordano Bruno, uma angustia me tomou ao lê-lo, espero que provoque em todos o mesmo efeito, para que assim possam sentir a real importância da liberdade e do poder que o pensar autônomo pode exercer sobre uma pessoa, que não é capaz de negá -lo pela própria vida.


" A 20 de janeiro de 1600 Bruno é condenado. Ao final foi levado, a oito de fevereiro, ao palácio do Grande Inquisidor para ouvir sua sentença de joelhos, diante dos acólitos assistentes e do governador da cidade. Quando a sentença de morte foi lida para ele, ele dirigiu-se aos juízes dizendo: "Talvez vocês, meus juízes, pronunciem esta sentença contra mim com maior medo que o meu em recebe-la." Lhe foram dados mais oito dias para ver se ele se arrebentai. Não adiantou. Em 17 de fevereiro ele foi trazido ao Campo di Fiori, sua boca com uma mordaça, para ser queimado vivo. Foi levado ao poste e quando estava morrendo um crucifixo lhe foi apresentado, mas ele empurrou-o para longe com marcado desdém. Seus trabalhos foram colocados no Índex em agosto de 1603 e seus livros tornaram-se raros."


"Ao final do século XIX intelectuais italianos redescobriram Bruno, tomando-o como símbolo do tipo de filósofo de vanguarda ousado e livre, e mártir da ciência e da filosofia. Para muitos no entanto não passou de um ocioso, um filósofo andarilho, um poeta vadio, e ficou longe de merecer ser chamado um cientista. Foi, sem dúvida, um pioneiro que acordou a Europa de um longo sono intelectual. Ele cunhou a frase "Libertas philosophica", o direito de pensar, sonhar e filosofar, e foi martirizado devido ao seu excessivo entusiasmo. A idéia do universo infinito foi uma das mais estimulantes idéias do Renascimento."


É preciso refletirmos sobre estes fatos históricos, e pensarmos que ainda hoje não somos livres, somos escravos de um sistema e não nos damos conta, a tirania sob a qual vivemos hoje é invisível, até nosso gosto e nossas vontades são ditadas e não nos damos conta disso...
Até mais,
Maíra Motta em 13 de abril de 2007

A Apologia de Sócrates.


A Morte de Sócrates. Quadro de David


Não poderia esquecer-me de Sócrates....deixo com ele mesmo a sua defesa, por certo não haverão melhores palavras para descrevê-la!!!

Apologia de Sócrates
“(…) De facto, tenho bem consciência de que não sou sábio, nem muito nem pouco. Que quer, então, o deus dizer quando afirma que sou o mais sábio? (…) Interroguei-me durante muito tempo (…) até que me decidi (…) a esclarecer-me da forma seguinte: dirigi-me a casa de um desses que passam por serem sábios (…). Examinei, então, aquele homem a fundo. (…) era um dos nossos homens de Estado (…). Conversando com ele, pareceu-me efectivamente que aquele homem parecia ser sábio aos olhos de muita gente e sobretudo aos dele próprio, mas que o não era de modo nenhum. Procurei, então, provar-lhe que ele não tinha a sabedoria que julgava possuir. Com isto só consegui, dele e de vários assistentes, obter inimigos. Enquanto me ia embora, fui dizendo para comigo: “Afinal, sou mais sábio do que este homem. É possível que nem eu nem ele saibamos algo de belo ou de bom. Mas ele julga saber alguma coisa, quando não sabe nada; ao passo que eu, se não sei nada, também não creio que o saiba”. Depois desse tal fui procurar um outro, um daqueles que passavam por ser ainda mais sábios que o primeiro. A minha impressão foi a mesma e mais uma vez recolhi inimigos, da parte dele e de muita outra gente.
Não deixei por isso de continuar a minha busca. Eu bem sentia, é certo, que só ia conseguindo inimigos e experimentava aborrecimentos e apreensão (…). Aqueles que eram mais famosos pela sua sabedoria pareceram-me ser, salvo algumas excepções, os que tinham mais falta dela (…), ao passo que outros, passando por serem inferiores, me pareceram homens mais sensatos (…).
Foram estas buscas, Atenienses, que suscitaram contra mim os inúmeros rancores (…) de onde provieram incontáveis calúnias (…), os que me ouvem imaginam sempre que conheço as coisas cuja ignorância desmascaro nos outros. (…) Ocupado com isto, nunca tive vagar de me interessar a sério pelos assuntos da cidade, nem sequer pelos meus, vivendo numa pobreza extrema porque estou ao serviço do deus.
(…) Eis, ó Atenienses, a verdadeira regra de conduta: todo o homem que escolheu um posto por julgá-lo o mais honroso, ou que aí foi colocado por um chefe, deve, na minha opinião, conservar-se nele seja qual for o perigo, não considerando nem a morte nem qualquer outro risco, mas, antes de mais nada, a honra.
(…) recear a morte não é senão cuidar-se sábio quando se não é, pois será crer que se sabe o que não se sabe. Ninguém (…) sabe o que é a morte, nem se ela será justamente para o homem o maior dos bens, receando-a como se fosse coisa certa ser ela o maior dos males. (…) as coisas de que não sei se não são bens, nunca as hei-de temer nem evitar.
(…) sou o moscardo que (…) jamais deixa de vos acordar, de vos aconselhar (…).
Para atestar que digo a verdade, sou eu quem traz aqui uma testemunha que sei irrecusável: a minha pobreza.
(…) É absolutamente necessário, quando se quer combater realmente em favor da justiça e se quer viver algum tempo, ficar-se confinado à vida privada e não tocar na vida pública.
(…) Mas, então, porque sentem prazer certos ouvintes em ficar longas horas na minha companhia? (…) é porque gostam de ouvir-me examinar os que se imaginam sábios e o não são, coisa que efectivamente não deixa de ser divertida (…).
Chega, ó juízes! Os argumentos que posso dar em minha defesa reduzem-se, mais ou menos, a estes ou talvez a alguns mais do mesmo género. Mas pode estar alguém no meio de vós que se sinta indignado ao recordar que, tendo também ele sofrido um processo de menor consequência que o meu, rogou e suplicou aos juízes à força de lágrimas, mostrou ao tribunal os filhinhos a fim de o comover o mais possível, e com os filhos muitos parentes e amigos; ao passo que eu, naturalmente, não quero fazer nada disso, ainda mesmo que possa julgar-me à mercê do supremo perigo. (…) “Também eu (…) tenho familiares; pois que, como diz Homero, não nasci nem dum carvalho, nem dum rochedo, mas de seres humanos. Também eu tenho familiares, ó Atenienses, e filhos em número de três, um dos quais é já adolescente e os outros dois pequeninos”. No entanto, não os trouxe aqui para vos levar a absolver-me. (…) para a minha honra, para a vossa e para a da cidade inteira, não me parece conveniente recorrer a qualquer desses meios, com a minha idade e a reputação que tenho (…) No entanto, vi muitas vezes pessoas dessas, que passavam por ser homens de valor, cometerem diante dos juízes baixezas surpreendentes (…). (…) quanto a mim penso que eles desonram a cidade (…).
(…) também não me parece que seja justo rogar ao juiz e fazer-se alguém absolver pelas suas súplicas. É, sim, necessário esclarecê-lo e convencê-lo, porque o juiz não ocupa o seu lugar no tribunal para fazer da justiça um favor, mas para decidir o que é justo. Ele não jurou para dar favores a quem lhe parece bem, mas para julgar de acordo com as leis. (…)
(…) Que pena ou que multa mereço eu, que, em vez de levar uma vida tranquila, descurei o que a maioria dos homens toma a peito: fortuna, interesses familiares, comandos do exército, carreira política, cargos de toda a espécie, ligações e partidos políticos, considerando-me demasiado honesto para salvar a minha vida se entrasse por tal caminho? (…)
É que tenho esta certeza: para onde quer que vá, os jovens virão escutar-me como vêm aqui (…).
Não foi por falta de argumentação que fui condenado, mas por falta de audácia e de descaramento e porque não quis que ouvísseis o que vos daria o maior agrado: Sócrates a lamuriar-se, a soltar gemidos, a fazer e a dizer um monte de coisas que considero indignas de mim, coisas que estais acostumados a ouvir aos outros acusados. (…) Prefiro muito mais morrer depois de me haver defendido como o fiz a viver graças a tais baixezas.
(…) Se a morte é a extinção de todo o sentimento e se parece com um daqueles sonos em que nada vemos, mesmo em sonho, morrer é então um maravilhoso lucro. (…) Se a morte, portanto, for qualquer coisa de semelhante, eu defendo que ela é um ganho, pois que a inteira sucessão dos tempos não parecerá mais do que uma só noite.
(…)
Tenho, porém, uma coisa a pedir-lhes. Quando os meus filhos forem crescidos, ó Atenienses, castigai-os com os mesmos tormentos com que vos atormentei se os virdes andarem à cata das riquezas ou de qualquer outra coisa, em vez da virtude. E se eles imaginarem ser alguma coisa não sendo nada, envergonhai-os como eu vos fazia, por negligenciarem o seu dever e se julgarem ser alguma coisa quando não têm qualquer mérito. Se fizerdes assim, ter-nos-eis tratado com justiça, a mim e aos meus filhos.
Mas chegou a hora de nos irmos, eu para morrer, vós para viver. Quem de nós tem a melhor parte, ninguém sabe, excepto o deus.

Platão
Até mais,
Maíra Motta

E por que haverias de querer...

E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
Hilda Hist

Amor, pois que é palavra essencial...


Tela de Charles-Paul Landom

Amor, pois que é palavra essencial

Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.
Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?
O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.
Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?
Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.
Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.
E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da própria vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.
E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.
Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.
Então a paz se instaura.A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor,
agradecendo o que a um deus
acrescenta o amor terrestre.

Carlos Drummond de Andrade

Punta del Este - Rogério Mauad


Foto de Rogério Paulucci Mauad - "Encontro de vênus com a Lua"
"És ou não és?, perguntou a Luz ao nada.A luz não recebeu resposta e fixou os olhos no nada.O nada era mesmo escuro e vazio.O dia todo a Luz experimentou ver.Auscultou. Mas não pôde ouvir.Tentou tocá-lo. Mas não pôde encontrá-lo.'Oh', disse a lua consigo mesma,'Isto é o máximo!Quem pode atingir uma tal altura?!Eu posso saber que não sei o que é o nada.Não posso,porém, não saber que não sei o que é o nada.Se sei que não sei o que é o nada, resta sempre ainda o saber do meu não saber.Como pode alguém alcançar essa culminância?!'"
Chuang Tzu
Obrigada Rogerio Mauad !
Até mais,
Maíra Motta

O vai e vem das idéias - Salvador Dali
Gostaria de poder por alguns segundos parar de pensar....mas as idéias invadem minha mente!!! Não saberia dizer se por sorte ou por azar, nós humanos temos a capacidade de pensar!!! A razão...as vezes tão útil, outras vezes tão cruel....longe de mim fazer apologia a misologia.... são as situações cotidianas que me levam a pensar assim...são apenas alguns momentos meus de ódio a esta razão que insiste em controlar meus sentidos e minhas vontades....Cultuada por vezes, menosprezada por outras.....sempre aguardando uma posição...mas esse não se definir diante desta antinomia em nossa razão também é uma forma de agir...é uma forma de se por, pomos-nos diante dela a esperar. O medo do erro nos censura, sempre queremos ter o controle da situação.....mas quando esta foge das nossas mãos ....maravilhas...arrependimentos...prazer....raiva...não sabemos onde vai dar....estamos sem o controle e como barco vai a deriva....quem sabe encontre terra firme.....ou uma tempestade....simplesmente....não sabemos onde vai dar!!! Mas esse não saber traz consigo a surpresa ....a novidade...é o momento em que o inesperado se apresenta....não sendo um cavalo de Tróia ....agradecemos ao sagrado!!! Caso contrário....culpa-a por te-la te abandonado!!!
Maíra Motta

Que pós- modernidade?


Com a morte de Deus, o grande avanço das ciências e as tão defendidas visões de mundo (Weltanschauung) o mundo se faz passar por uma crise. Anunciam com a pós- modernidade a crise epistemológica e humanista, negam a pretensão à universalidade em defesa de um pluralismo que se revela cada vez mais individualizante!A liberdade cada mais tornando-se refém da tirania dos mais poderosos, que nos dizem o que devemos vestir, como devemos agir, o que devemos comer, e ainda como devemos nos pentear e muito mais. As crianças da nossa época são criadas em série, revelam-se maquinas cada vez mecanizadas e submetidas a uma educação que esta cada dia mais distante de alcançar seus objetivos( reais objetivos) . A criança ao contrário de ser educada ,passa a ser vista como um reservatório de conhecimentos, onde os professores simplesmente descrregam conceitos e conhecimentos objetivos, são criadas para competir e defender seus interesses, seus individualismos.Não podemos confundir aqui individualismo com individualidade, a individualidade é o ser cada um, a compreensão que cada um tem di si, seus valores e crenças, já o individualismo está mais para o ter de cada um ....o que facilmente podemos constatar em qualquer constituição civil...a velha dicotomia ser e ter! Hoje deus esta morto, as pessoas acreditam nesta possibilidade e passam se compreender como livres, já não existem mais provações,não há mais inferno, resta apenas a vontade de ter de cada um, e assim a realização das vontades individuais terminam por atropelar todos que cruzam-lhes os caminho! Que impedem a realização dos seus desejos.Será que a liberdade pode ser considerada essa barbárie, onde cada um é abandonado a si mesmo e suas vontades existem para reinar, superiores as de todos os outros, passando por cima de tudo e de todos para realizar seus caprichos, já não notam o mendigo que dorme na calçada, a criança que passa fome ao seu lado e que seus sonhos não passam de tenebrosos pesadelos disfarçados. Onde estão os ideais da modernidade? Será que em algum momento as pessoas se conscientizaram sequer que eles existiam? Deflagram uma crise de algo que nem chegou a se concretizar, o esclarecimento esta cada vez mais escurecido, e o caminho que a muito trilhamos não tenho dúvidas foi contrário à modernidade. Vemos cada dia, mais e mais pessoas se desesperando e caindo nas mãos de mercenários que profetizam em nome de um deus onipotente, que cura de um cancer, que faz o marido parar de beber, que arranja o emprego...enfim um deus que cobra consulta e auxilia os outros a cada vez mais dá para ter!E esse vírus contamina milhares a cada dia, pensm que o vírus é na verdade o remédio e findam por tornar-se cada dia mais doente.E ai? Pós modernidade ou retorno a idade das trevas? Gostaria realmente de poder responder, mas a resposta seria apenas mais uma visão de mundo! A modernidade tá ai, tentando esclarecer e iluminar, tentando ainda mostrar a importância do pensar próprio, autônomo, e da sociedade em geral, pois só assim as ações podem ser refletidas antes de se concretizarem! Sapere Aude! Ouse Pensar!Não podemos nos tornar escravos do mundo e de nós mesmos!
Até mais,
Maíra Motta em
19/04/2007

Loucuras incabíveis!


O início da loucura...
Pessoas unidas numa casa,
Amigos, conhecidos, desconhecidos
Uma dupla, um trio, um quarteto...
alguém só...
mas todos juntos...
Líquidos unem pessoas.
Vontades soltas e contidas ...
definem a consequência dos fatos...
ir ou não ir?!
eis a questão imposta...
Ficando ou não
os líquidos permanecem a unir pessoas....
apenas o círculo aumenta...
cresce e se amplia para a cidade.
Mas junto com este crescimento do espaço unido,
as vontades aumentam...
sem saber alguns que este é apenas um prólogo...
O que esta por vir,
nem os líquidos de uma louca noite anterior conseguiram impedir.
Uma loucura desmedida..
que a aparência do ânimo tentava criar a ilusão...
mostrando um desanimo que não existia.
Segue-se caminho rumo a liberações e desprendimentos de vontades,
vontades imersas em líquidos abundantes...
vai, não entra, volta...
são as convenções...
ninguém quer ser o primeiro a adentrar o cenário,
volta, liquido e vai
agora já esta liberado o cenário...
e tudo começa a acontecer....
o ar começa a incomodar...
o corpo a se movimentar
e a multidão se une...
são tantas loucuras sem cabimento...
sou incapaz de descrevê-las
pois assim me contradiria,
se realmente coubessem aqui...
O tempo começa a enlouquecer ...
começa a correr como um insano...
se esquece das vontades...
das chaves perdidas...
chaves que abrirão e permitirão o abandono do cenário...
Mas há ainda no cenário uma louca perdida...
Líquidos nas mãos em vidro.
A chave faz cessar o choro,
numa casa vizinha...
porque o cenário deixou de existir...
Entram duas....
estranhamente entram dois...
Conhece-se um ...
desconhece-se outro...
mas nada impede a vontade até então...
Liquido, fumaça, corpo, fogo, pensamento...
são os simples elementos que compõem
aquele universo...
Mãos perdidas, dentes soltos....
um problema...
uma explosão...
o sol cega, esquenta e já não dá para ficar parado...
o toque do compromisso mais uma vez adiado insiste em incomodar...
Dois expulsos....
Largados e abandonados ...
Em plena cidade acordada...
um modo de comunicação entregue...
vai e volta ...
e já não mais dois
já não há mais liquido...
só resta a insonia e as lembranças...
loucuras contidas...
e a tentativa de compreender algo que não pode ser compreendido...
só restava saber algo...
que a louca perdida na festa estava agora amarrada...
numa cama de hospital...
sem lenço, sem documento....
sem sapatos
e que um desconhecido...
descia do ônibus,
para um encontro com céu e mar...


Aos amigos... por...Maíra Motta...em... 23/04/2007

quinta-feira, 20 de março de 2008

Antagonismo


Antagonismo

Quando minha ausência se fez a ti presente;

e do vazio uma completude estranha rompeu.

Tua presença levou embora minha ausência;

Semeando orquídeas pelo caminho

de pântanos alagados e sombrios.

Levou embora minha ausência

trazendo sem ela a nitidez;

Um feixe de luz distribuída

numa exata proporção à escuridão presente.

Sem esta minha ausência,

sol e lua se encontraram;

Dia e noite se fundiram;

Já não eram mais os mesmos;

Já não éramos mais os mesmos,

minha ausência e tua presença!

E assim: amanhecemos, entardecemos e anoitecemos...

em um tempo único!

Não se sabe mais o que é carência,

o que é desejo e o que é vontade!

O pensamento em ti, a presença em ti,

já não estão ausentes!

Lanço-me neste tempo colorido.

Nesta mistura de cores

que entre manhã, tarde e noite

rompe no horizonte.

E assim trancafio a tirana razão

no calabouço

de seus castelos lógicos,

castelos humanos, calculados;

que há muito se instruiu ...

e sigo assim...

pois levastes embora minha ausência...

sigo sem distinguir os opostos...

pois sempre haverá apenas duas direções
em tua presença!


Mai em 20/03/2008

quarta-feira, 12 de março de 2008

Pablo Neruda

"Gosto de ti quando calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, e minha voz não te toca.
Parece que teus olhos saltaram
e parece que um beijo fechara a tua boca.
Como todas as coisas estão cheias de minh'alma
emerges das coisas cheia de alma, a minha.
Borboleta de sonho, tu pareces com minh'alma,
como pareces com a palavra melancolia.
Gosto de ti quando calas e estas como distante.
E estas como a queixar-te, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e minha voz não te alcança:
permite que eu me cale com teu silêncio agudo.
Permite que eu te fale tambem com o teu silêncio claro
como uma lampada e simples como um elo.
Tu és como a noite, calada e constelada.
Teu silencio é de estrela, afastado e singelo.
Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se estivesses morta.
Uma palavra, então, um sorriso são o bastante.
E fico alegre, alegre porque a verdade é outra."

Pablo Neruda

Morre lentamente...


Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.

Pablo Neruda

domingo, 2 de março de 2008

Delírio " Secos e Molhados"

Delírio

Não vou buscar
A esperança
Na linha do horizonte
Nem saciar
A sede do futuro
Da fonte do passado
Nada espero
E tudo quero
Sou quem toca
Sou quem dança
Quem na orquestra
Desafina
Quem delira
Sem ter febre
Sou o par
E o parceiro
Das verdades
À desconfiança.
Tela de Goya

sábado, 1 de março de 2008

Ainda ontem...


Ainda ontem senti seu olhar
Ele não desviava a direção...
Devia ter acostumado,
Desde que te esqueci,
Resolveu lembrar-me...
Teu pensamento era de outra
Vivi um mundo onde nada era meu
Cansei, chorei, desisti....
Rompi a ano rezando à grande mãe
E rogando esquecer-te...
Foi fácil.
Te esqueci
Mas desde que te esqueci,
Resolveu lembrar-me.
E num encontro casual,
Reclamastes do meu beijo...
Já não era o mesmo,
Reclamastes do meu corpo,
Já não tinha linguagem,
Te desejava por este simples momento.
A mágica dos corpos havia se perdido,
E só então pode perceber que já não te pertencia ...
E muito tempo se passou, acontecimentos nos afastaram ainda mais
Mas seu olhar ...
Iniciou sua trajetória em minha direção
Já não havia o que falar
Eu entendia, você entendia...
Não havia mais vontade...
Não havia mais mágica...
E o tempo se passou...
E o tempo se passou...
Ainda ontem senti seu olhar...
E ele permanecia na mesma direção...
E no simples cumprimento meu ao que hoje chamo amigo...
Senti que teu corpo falava,
Senti tuas mãos a percorrer meus cabelos,
Senti suas mãos nas minhas,
Senti a vontade do beijo,
Senti também que os tempos de outrora não haviam voltado,
Simplesmente ...
Senti o olhar que não mudava a direção...
Senti você ali,
Senti algo,
Senti vontade
Senti o beijo
Já não sei o que será...
O que apenas sei...é que não costumo errar mais de uma vez....
e sinceramente não sei dizer....
Se voltar a olhar você não seja um erro!
Maira Motta
em 01/03/2008
Tela de Edwin Church

É preciso dizer...


Não te esqueças de que a tua frase é um acto. Se desejas levar-me a agir, não pegues em argumentos. Julgas que me deixarei determinar por argumentos? Não me seria difícil opor, aos teus, melhores argumentos. Já viste a mulher repudiada reconquistar-te através de um processo em que ela prova que tem razão? O processo irrita. Ela nem sequer será capaz de te recuperar mostrando-te tal como tu a amavas, porque essa já tu a não amas. Olha aquela infeliz que, nas vésperas do divórcio, teve a ideia de cantar a mesma canção triste que cantava quando noiva. Essa canção triste ainda tornou o homem mais furioso. Talvez ela o recuperasse se o conseguisse despertar tal como ele era quando a amava. Mas para isso precisaria de um génio criador, porque teria de carregar o homem de qualquer coisa, da mesma maneira que eu o carrego de uma inclinação para o mar que fará dele construtor de navios. Só assim cresceria essa árvore que depois se iria diversificando. E ele havia de pedir de novo a canção triste. Para fundar o amor por mim, faço nascer em ti alguém que é para mim. Não te confessarei o meu sofrimento, porque ele te faria desgostar de mim. Não te farei censuras: elas irritar-te-iam justamente. Não te direi as razões que tu tens para amar-me, porque não as tens. A razão de amar é o amor. Também não me mostrarei mais, tal como tu me desejavas. Porque tu já não desejas esse. Se não, amar-me-ias ainda. Mas educar-te-ei para mim. E, se sou forte, mostrar-te-ei uma paisagem que fará de ti meu amigo.

Antoine de Saint' Exupéry

In Cidadela.


Para homens e mulheres.....rsrsrs
Tela de Edwin Chuch