domingo, 23 de março de 2008


O tribunal de inquisição. Franscisco de Goya y Lucientes, 1816. Academia Real de San Fernando, Madri.
Hoje é sexta-feira 13, a superstição está no ar....recordei-me de relatos do tempo de outrora...homens e mulheres que foram sacrificados sob a acusação de práticas heréticas, não é a toa que esta época é conhecida como a época das trevas....o poder de uma igreja contra toda a humanidade....não se podia falar de amor, astrologia, das plantas com seus poderes curativos , em dançar a luz da lua, nem sequer dizer nada que contestasse a doutrina imposta por esta instituição macabra. Livros foram censurados e queimados ( como a segunda poética de Aristóteles),homens e mulheres foram condenados, jogados à fogueira ou enforcados ( Giordano Bruno)...o retrato fiel da barbárie e da tirania religiosa.Recordo-me bem da obra O nome da rosa de Umberto Ecco, que soube retratar com fidelidade esta fase tenebrosa da era medieval, mostrando-nos como a Igreja Católica estava disposta a vigiar e manter sob seu domínio todo o universo do pensamento humano. Qualquer um que ousasse defender suas idéias científicas, religiosas, ou em qualquer área do saber, se estivesse em desacordo com a interpretação do Vaticano, era considerado um herético, e, por isso, por esse crime, eram julgados e condenados. Era quase impossível aos ditos hereges se livrarem da tortura e da fogueira. Segue-se um trecho do livro de Rubem Q. Cobra que nos relata a execução de Giordano Bruno, uma angustia me tomou ao lê-lo, espero que provoque em todos o mesmo efeito, para que assim possam sentir a real importância da liberdade e do poder que o pensar autônomo pode exercer sobre uma pessoa, que não é capaz de negá -lo pela própria vida.


" A 20 de janeiro de 1600 Bruno é condenado. Ao final foi levado, a oito de fevereiro, ao palácio do Grande Inquisidor para ouvir sua sentença de joelhos, diante dos acólitos assistentes e do governador da cidade. Quando a sentença de morte foi lida para ele, ele dirigiu-se aos juízes dizendo: "Talvez vocês, meus juízes, pronunciem esta sentença contra mim com maior medo que o meu em recebe-la." Lhe foram dados mais oito dias para ver se ele se arrebentai. Não adiantou. Em 17 de fevereiro ele foi trazido ao Campo di Fiori, sua boca com uma mordaça, para ser queimado vivo. Foi levado ao poste e quando estava morrendo um crucifixo lhe foi apresentado, mas ele empurrou-o para longe com marcado desdém. Seus trabalhos foram colocados no Índex em agosto de 1603 e seus livros tornaram-se raros."


"Ao final do século XIX intelectuais italianos redescobriram Bruno, tomando-o como símbolo do tipo de filósofo de vanguarda ousado e livre, e mártir da ciência e da filosofia. Para muitos no entanto não passou de um ocioso, um filósofo andarilho, um poeta vadio, e ficou longe de merecer ser chamado um cientista. Foi, sem dúvida, um pioneiro que acordou a Europa de um longo sono intelectual. Ele cunhou a frase "Libertas philosophica", o direito de pensar, sonhar e filosofar, e foi martirizado devido ao seu excessivo entusiasmo. A idéia do universo infinito foi uma das mais estimulantes idéias do Renascimento."


É preciso refletirmos sobre estes fatos históricos, e pensarmos que ainda hoje não somos livres, somos escravos de um sistema e não nos damos conta, a tirania sob a qual vivemos hoje é invisível, até nosso gosto e nossas vontades são ditadas e não nos damos conta disso...
Até mais,
Maíra Motta em 13 de abril de 2007

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