quarta-feira, 23 de abril de 2008

Histórias de família!

Henriqueta Prates


ACADEMIA DO PAPO Por Paulo Pires(*)Postado em 06.09.2007 : 21:20
Anteontem, 04 de setembro de 2007, fez 50 anos que morreu dona Henriqueta Prates. Se fôssemos um País dado a preservação da memória, certamente teríamos realizado pelo menos um evento para homenagear a esta, que foi sem dúvida, uma das personalidades mais significativas de Vitória da Conquista. Aos 04 de setembro de 1957, falecia dona Henriqueta. Na década de 1980 a cidade prestou-lhe uma homenagem colocando em um dos bairros o seu nome. Mas, pelo que ela fez, deveria ser lembrada em outras oportunidades e por muitos motivos. Dentre esses, vale assinalar, a sua personalidade exuberante e um enorme espírito de solidariedade. No final do século XIX, em meio a uma seca daquelas de fazer o caburé esquecer o piado, dona Henriqueta por iniciativa própria e movida por uma sensibilidade excepcional antecipou-se à modernidade do final do século XX e criou uma espécie de ONG (Organização Não Governamental) ou uma OCIP (Organização Civil de Interesse Público), como queiram, e transformando a sua residência em um centro de atendimento para os mais necessitados da região. Foi uma luta tremenda para ajudar a tantos, mas ela, conforme diz o nosso hino, não “fugiu à luta”. Dona Henriqueta enviuvou em 1897 aos 34 anos de idade. Mãe de 07 filhos, não perdeu o rumo da sua estrada. Ao contrário, soube “romper” e construir o seu destino com uma maestria, digna de louvores. Além de excelente administradora do lar, possuía capacidade de gerenciamento invejável no mundo dos negócios. Dos seus 07 filhos, a caçula Maria Vitória tive a honra de conhecer pessoalmente e com ela partilhar momentos saudáveis. Dona Tazinha, como era conhecida Maria Vitória dos Santos Silva, era uma pessoa especial. Estudiosos de hoje investigam se os nomes das pessoas as ajudarão ou não durante suas trajetórias aqui na terra. No caso de Maria Vitória, creio, o nome lhe foi benéfico. De Maria ela recolheu a bondade, a discrição e a pureza; de Vitória a energia e a sabedoria para ter inúmeras conquistas no plano espiritual. Tudo isso, penso, herdado de dona Henriqueta. Esta logo cedo aprendera com os pais as boas regras para se viver em sociedade. Conforme os historiadores Ruy Medeiros, Ana Palmira Bittencourt dos Santos Casimiro e Heleusa Figueira Câmara (História e Cotidiano do Planalto de Conquista), ao mudar-se da Fazenda para o centro de Conquista dona Henriqueta recebeu a seguinte orientação do pai, José Sátiro: “aos vizinhos devia-se servir, receber e tratar com cordialidade e solidariedade, mas nunca deixar invadirem a sua privacidade”. Conclui-se daí que o pai de dona Henriqueta era homem inteligente, prudente e previdente. Durante décadas e mais décadas, a casa de Henriqueta Prates abrigou grandes decisões para a vida de nossa Cidade. Conquista, apesar de contar em sua jurisdição com distritos como Belo Campo, Anagé, Barra do Choça, Cândido Sales e outros, era uma cidade bem piquititinha. Em outras palavras, não tínhamos nada. A comunicação com outros municípios cingia-se a estradas coloniais e a picadas feitas pelos índios, conforme nos informa o historiador Zai Orrico em sua obra Mulheres que Fizeram História em Conquista. Na casa de Henriqueta, homens como Zeferino Correia, Maximiliano Fernandes, Cassiano Santos, tomaram a iniciativa de construir uma estrada carroçável que nos permitiria chegar até Jequié. Implantamos os serviços de Correios e Telégrafos, construímos nosso primeiro campo de aviação que até hoje - a não ser o asfalto – pouca melhoria teve. As festas na casa de Dona Henriqueta eram sensacionais. Se você descer hoje pela Praça Tancredo Neves e olhar para o Museu Regional da UESB, leve o seu pensamento para 60, 70, 80 anos atrás e pense aquela frente de casa com fogueira enorme (nas festas de São João) ou em outras festas, as janelas abertas, dezenas de pessoas de nossa sociedade, todo mundo bem vestido e se divertindo frente a iguarias, acepipes, licores e vermutes, feitos e consumidos com elegância e bom gosto. Era assim aquele espaço. Um dos convivas mais presentes era Doutor Régis Pacheco (casado com Enerina, uma das sobrinhas da dona da casa). Doutor Régis era um homem extremamente cordial e festeiro. Sabia adicionar à sua personalidade forte um encantamento natural (sex appeal) que dava a ele um destaque todo especial. O mulherio ficava encantado com o médico Régis e, cá prá nós, não era para menos. Não foi à toa que ele encantou a uma boa parte dos baianos e se elegeu governador do Estado. Para encerrar, não posso omitir outro grande legado de dona Henriqueta: a qualidade dos descendentes que ela deixou para o nosso município, para a nossa comunidade. Os seus herdeiros são pessoas extremamente cordiais, simpaticíssimas, diplomáticas. Peço licença aos demais, mas quero me referir especialmente a três que conheço mais de perto: Aydil Santos Silva, Iany Santos Silva (viúva do grande fazendeiro Geremias Gusmão) e Humberto dos Santos Flores. Este último é um influente observador de nossa vida cultural, conhecedor como poucos do nosso repertório político e analista acurado de nossas vicissitudes sociais. As histórias de Humberto são verdadeiras pérolas e nos ajudam a entender um pouco o espírito do homem conquistense. A sua forma de contar essas histórias obedece a um estilo clássico e nos faz lembrar os grandes rapsodos do tempo de Homero. Aliás, não é só Humberto. Os três primos citados possuem o mesmo estilo, a mesma fidalguia. Eles são netos de dona Henriqueta Prates e isso diz tudo. Um abraço cordial e até a próxima. Paulo Pires.(*) Professor UESB-FAINOR

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