quinta-feira, 3 de abril de 2008

"A Felicidade de uma razão perfeita"

O homem feliz, insisto, é aquele que nenhuma circunstância inferioriza; que permanece no cume sem outro apoio além de si mesmo, pois quem se sustenta com o auxílio dos outros está sujeito a cair. Se assim não fosse, começariam a ter ascendente sobre nós coisas que nos são exteriores. Haverá alguém que deseje estar na dependência da fortuna? Qual o homem de bom senso que se envaidece do que lhe não pertence? A felicidade não é mais do que a segurança e a tranquilidade permanentes. Quem no-las proporciona é a grandeza de alma, bem como a constante perseverança na correcção das nossas ideias. Os meios de atingir este estado estão na plena consideração da verdade; em observarmos sempre nas nossas acções a ordem, a moderação, a moralidade, a inocência e a benevolência de uma vontade sempre atenta à razão, nunca desta se apartando, digna ao mesmo tempo de amor e de admiração. Resumamos tudo isto numa fórmula sintética: a alma do sábio deve ser tal qual a que conviria a um deus! Que mais pode desejar um homem que alcançou a perfeição moral? Repara: se a plenitude do homem pode de algum modo ser favorecida por elementos à margem da moralidade, então a felicidade dependerá desses elementos sem os quais não pode passar. Há coisa mais abjecta e estúpida do que fazer depender de elementos irracionais o bem próprio da alma racional?

Séneca, in 'Cartas a Lucílio'

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